sábado, maio 18, 2024

Conteúdo que impacta no seu bolso!

O Desafio Educacional no Brasil: Transformando Compromissos em Ações

Uma frase costumeiramente dita pelo líder sul-africano Nelson Mandela, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993, nunca perde o sentido: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Eis uma lição que o Brasil não aprendeu porque permanece sem priorizar a educação como agente de transformação do País.

Há 33 anos a Constituição Federal de 1988 deu um passo significativo ao obrigar, em seu artigo 212, que a União aplique ao menos 18% e os governos estaduais e municipais invistam, no mínimo, 25% da receita resultante de impostos em educação. O problema é que um equívoco histórico se perpetua por falta de coragem ou omissão propositada de nossos governantes, com a covarde cumplicidade do Congresso Nacional.

Isso porque o governo federal até hoje se aproveita de uma inexatidão terminológica seguida pelos constituintes, os quais, ao tratar da obrigação constitucional de investimento em educação, fixaram percentual de arrecadação de impostos e não de tributos (que englobam impostos, taxas e contribuições). E faz isso aumentando a carga tributária via contribuições – como Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) – e adotando a política de conceder renúncias fiscais com os impostos compartilhados com estados e municípios, como o Imposto de Renda (IR) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Ou seja, sem que congressistas, governadores, prefeitos e reitores de universidades percebessem, o governo federal conseguiu, ao mesmo tempo, subtrair as receitas dos Estados e Municípios e impedir o aumento dos investimentos obrigatórios em educação e saúde, calculados apenas sobre os impostos. Além disso, sobrepôs as receitas e o poder da União, e consequentemente a dependência dos Estados e Municípios, (entortaram a federação), distorcendo o princípio federativo.

Com a ciência de tais informações, é incontestável pensar que se o percentual destinado à educação abarcasse também os tributos, e não somente aos impostos, haveria imediato e robusto reforço nos recursos carimbados para esse segmento, vital para mudar para melhor a realidade do Brasil. Mas não é só.

Se o Brasil almeja garantir mais receitas para a educação, precisa rever a prática enraizada de concessão de renúncias fiscais, especialmente as que envolvem IR e IPI, cujo total correspondeu, em 2021, de 4,5 a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Como são impostos compartilhados com estados e municípios, ambos representam perda para esses entes federativos aplicarem em educação cada vez que uma renúncia fiscal é concedida.

Em valores calculados sobre a estimativa do PIB de 2022 (R$ 9,7 trilhões), IR e IPI somam R$ 657 bilhões. E a renúncia fiscal da União sobre esses dois impostos atinge R$ 145 bilhões, ou até R$ 165 bilhões se considerada a renúncia fiscal adicional sobre IPI garantida por decretos recentes do governo federal. Isto é: as renúncias fiscais consomem 25,11% das receitas de IR e IPI.

Há outros números superlativos. As benesses fiscais da União resultam de perda de R$ 37,15 bilhões para o Fundo de Participação dos Estados e de R$ 40,42 bilhões para o Fundo de Participação dos Municípios. Isso representa R$ 19,39 bilhões a menos para investimento nos ensinos fundamental e médio (estados e municípios) e menos R$ 15,84 bilhões para o ensino superior e institutos de pesquisa (União). Um país que ainda tem 11 milhões de analfabetos não pode se dar ao luxo de desprezar R$ 35,23 bilhões por ano para investimento em área tão sensível. É possível mudar esse rumo, proibindo a renúncia fiscal com impostos compartilhados ou garantindo compensações por meio do repasse do volume de recursos retirados pela renúncia, via outra fonte.

Além de aumentar os investimentos, o Brasil ainda precisa repensar a qualidade da educação que oferece aos seus cidadãos. É urgente implantar escolas de tempo integral nos ensinos fundamental e médio assim como, na mesma medida, é necessário valorizar a profissão de professor, oferecendo-lhe remuneração adequada, capacitação permanente com treinamento e reciclagem, e melhores condições de segurança e transporte, sobretudo para os profissionais que atuam nas periferias, na zona rural e nos cursos noturnos. Recursos para isso existem e viriam da redução das renúncias fiscais.

As novas tecnologias, as novas profissões, as recentes necessidades do mercado exigem também uma revisão das grades curriculares, hoje defasadas, trazendo-as para o século XXI a fim de preparar os estudantes para os desafios atuais e futuros do mundo globalizado e altamente tecnológico. A Matemática hoje lecionada nos ensinos fundamental e médio no Brasil, por exemplo, sequer aborda a questão das finanças, com a qual o cidadão vai conviver até o fim da vida, seja a nível pessoal, seja a nível profissional. Todos os cursos deveriam incluir noções elementares de finanças, de economia e de controle de gastos.

Nem é preciso dizer que o Brasil também precisa universalizar o acesso ao ensino superior e fomentar as instituições de pesquisas, aproveitando a fonte de recursos garantida por uma nova política de renúncias fiscais que deveria ser limitada por lei a 1,5% a 2% do PIB, no máximo. Educação nunca foi despesa; sempre foi investimento com retorno garantido, como ensinou o economista britânico Sir Arthur Lewis, em lição ainda não aprendida pelos governantes brasileiros.

É unanimidade nacional o conceito de que sem educação não há salvação. O problema é que a prática se mantém distanciada do discurso. Com isso, a salvação não veio e não virá sem mudanças profundas como, por exemplo, as discutidas nessas linhas.

Samuel Hanan
Samuel Hanan
Engenheiro, com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário e vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”.

Leia Mais

Eletrobras (ELET3) avança na Bolsa, mas cai 10% no ano; veja o que aconteceu na semana

Negócios As ações ordinárias da Eletrobras (ELET3) tiveram uma queda de 0,6% na Bolsa de Valores hoje (17), mas acumularam uma valorização semanal de 0,87%,  » LEIA MAIS

Justiça condena Novonor a indenizar Braskem (BRKM5) em mais de R$ 8 bi, diz Brazil Journal

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo condenou nesta sexta-feira a Novonor (ex-Odebrecht) a pagar uma indenização de mais de 8 bilhões de reais à Braskem (BRKM5)  no âmbito de...

Casas Bahia (BHIA3) dispara 14,24% na semana; o que aconteceu?

Negócios As ações da Casas Bahia (BHIA3) encerraram a sessão desta sexta-feira (17) em alta de 1,70%, cotadas a R$ 7,78. No desempenho semanal,  » LEIA MAIS

Petrobras: (PETR4) perde R$ 68,1 bilhões em valor de mercado nesta semana

Mercado As ações preferenciais da Petrobras (PETR4; PETR3) tiveram uma queda de 11,8%, enquanto as ordinárias da petroleira (PETR3) recuaram 12,6% na semana,  » LEIA MAIS

Relator vota por cassação de governador do RJ em julgamento no TRE

O relator da ação que julga um pedido de cassação de mandato do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ),  » LEIA MAIS

Lotomania: veja números sorteados no concurso 2622

Na noite desta sexta-feira (17), acaba de ser sorteado o prêmio do concurso 2622 da Lotomania que estava estimado em R$ 1,8 milhão. O sorteio aconteceu às 20h no Espaço da Sorte,...

Dupla Sena 2663: confira as dezenas do sorteio dos R$ 4,2 milhões

O sorteio do concurso 2663 da Dupla Sena, foi realizado no Espaço da Sorte, às 20h desta sexta-feira (17). O prêmio estimado para quem acertar as dezenas é de R$ 4,2 milhões....

Resultado Super Sete: veja os números sorteados no concurso 545

Na noite desta sexta-feira (17), o sorteio do concurso 545 da Super Sete foi realizado pela Caixa Econômica Federal e transmitido ao vivo no YouTube.  » LEIA MAIS

Antiga Odebrecht é condenada a pagar US$ 1 bilhão à Braskem (BRKM5)

Nesta sexta-feira (17), a Novonor (antiga Odebrecht) foi condenado pela Justiça de São Paulo a pagar US$ 1 bilhão à Braskem (BRKM5). A decisão ocorreu no âmbito de um processo movido por...

Suzano (SUZB3) aprova debêntures em valor bilionário; confira

O conselho de administração da Suzano (SUZB3) aprovou a 11ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, no valor de até R$ 5,9 bilhões.  » LEIA MAIS

Comments

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Conteúdos Exclusivos

*Inscreva-se e receba conteúdos exclusivos: artigos, notícias, vídeos e podcast.

Nossos canais

Destaques

plugins premium WordPress