sábado, maio 4, 2024

Conteúdo que impacta no seu bolso!

O Desafio Educacional no Brasil: Transformando Compromissos em Ações

Uma frase costumeiramente dita pelo líder sul-africano Nelson Mandela, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993, nunca perde o sentido: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Eis uma lição que o Brasil não aprendeu porque permanece sem priorizar a educação como agente de transformação do País.

Há 33 anos a Constituição Federal de 1988 deu um passo significativo ao obrigar, em seu artigo 212, que a União aplique ao menos 18% e os governos estaduais e municipais invistam, no mínimo, 25% da receita resultante de impostos em educação. O problema é que um equívoco histórico se perpetua por falta de coragem ou omissão propositada de nossos governantes, com a covarde cumplicidade do Congresso Nacional.

Isso porque o governo federal até hoje se aproveita de uma inexatidão terminológica seguida pelos constituintes, os quais, ao tratar da obrigação constitucional de investimento em educação, fixaram percentual de arrecadação de impostos e não de tributos (que englobam impostos, taxas e contribuições). E faz isso aumentando a carga tributária via contribuições – como Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) – e adotando a política de conceder renúncias fiscais com os impostos compartilhados com estados e municípios, como o Imposto de Renda (IR) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Ou seja, sem que congressistas, governadores, prefeitos e reitores de universidades percebessem, o governo federal conseguiu, ao mesmo tempo, subtrair as receitas dos Estados e Municípios e impedir o aumento dos investimentos obrigatórios em educação e saúde, calculados apenas sobre os impostos. Além disso, sobrepôs as receitas e o poder da União, e consequentemente a dependência dos Estados e Municípios, (entortaram a federação), distorcendo o princípio federativo.

Com a ciência de tais informações, é incontestável pensar que se o percentual destinado à educação abarcasse também os tributos, e não somente aos impostos, haveria imediato e robusto reforço nos recursos carimbados para esse segmento, vital para mudar para melhor a realidade do Brasil. Mas não é só.

Se o Brasil almeja garantir mais receitas para a educação, precisa rever a prática enraizada de concessão de renúncias fiscais, especialmente as que envolvem IR e IPI, cujo total correspondeu, em 2021, de 4,5 a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Como são impostos compartilhados com estados e municípios, ambos representam perda para esses entes federativos aplicarem em educação cada vez que uma renúncia fiscal é concedida.

Em valores calculados sobre a estimativa do PIB de 2022 (R$ 9,7 trilhões), IR e IPI somam R$ 657 bilhões. E a renúncia fiscal da União sobre esses dois impostos atinge R$ 145 bilhões, ou até R$ 165 bilhões se considerada a renúncia fiscal adicional sobre IPI garantida por decretos recentes do governo federal. Isto é: as renúncias fiscais consomem 25,11% das receitas de IR e IPI.

Há outros números superlativos. As benesses fiscais da União resultam de perda de R$ 37,15 bilhões para o Fundo de Participação dos Estados e de R$ 40,42 bilhões para o Fundo de Participação dos Municípios. Isso representa R$ 19,39 bilhões a menos para investimento nos ensinos fundamental e médio (estados e municípios) e menos R$ 15,84 bilhões para o ensino superior e institutos de pesquisa (União). Um país que ainda tem 11 milhões de analfabetos não pode se dar ao luxo de desprezar R$ 35,23 bilhões por ano para investimento em área tão sensível. É possível mudar esse rumo, proibindo a renúncia fiscal com impostos compartilhados ou garantindo compensações por meio do repasse do volume de recursos retirados pela renúncia, via outra fonte.

Além de aumentar os investimentos, o Brasil ainda precisa repensar a qualidade da educação que oferece aos seus cidadãos. É urgente implantar escolas de tempo integral nos ensinos fundamental e médio assim como, na mesma medida, é necessário valorizar a profissão de professor, oferecendo-lhe remuneração adequada, capacitação permanente com treinamento e reciclagem, e melhores condições de segurança e transporte, sobretudo para os profissionais que atuam nas periferias, na zona rural e nos cursos noturnos. Recursos para isso existem e viriam da redução das renúncias fiscais.

As novas tecnologias, as novas profissões, as recentes necessidades do mercado exigem também uma revisão das grades curriculares, hoje defasadas, trazendo-as para o século XXI a fim de preparar os estudantes para os desafios atuais e futuros do mundo globalizado e altamente tecnológico. A Matemática hoje lecionada nos ensinos fundamental e médio no Brasil, por exemplo, sequer aborda a questão das finanças, com a qual o cidadão vai conviver até o fim da vida, seja a nível pessoal, seja a nível profissional. Todos os cursos deveriam incluir noções elementares de finanças, de economia e de controle de gastos.

Nem é preciso dizer que o Brasil também precisa universalizar o acesso ao ensino superior e fomentar as instituições de pesquisas, aproveitando a fonte de recursos garantida por uma nova política de renúncias fiscais que deveria ser limitada por lei a 1,5% a 2% do PIB, no máximo. Educação nunca foi despesa; sempre foi investimento com retorno garantido, como ensinou o economista britânico Sir Arthur Lewis, em lição ainda não aprendida pelos governantes brasileiros.

É unanimidade nacional o conceito de que sem educação não há salvação. O problema é que a prática se mantém distanciada do discurso. Com isso, a salvação não veio e não virá sem mudanças profundas como, por exemplo, as discutidas nessas linhas.

Samuel Hanan
Samuel Hanan
Engenheiro, com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário e vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”.

Leia Mais

Clubes brasileiros de futebol atingem R$ 1,4 bilhão em receitas de marketing

As receitas de marketing no futebol brasileiro, que englobam patrocínios e outras iniciativas como licenciamento e vendas de produtos, cresceram 22% em 2023, totalizando R$ 1,4 bilhão,  » LEIA MAIS

Aeroporto de Porto Alegre suspende pousos e decolagens por chuvas no RS

A administração do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, anunciou na noite desta sexta-feira, 3, que suspendeu por tempo indeterminado os pousos e decolagens no local.  » LEIA MAIS

Ibovespa: (IBOV): A retomada começou, avisa analista gráfico; veja alta que índice pode buscar

O Ibovespa, após sofrer duro golpe em abril e desabar 1,9%, agora parece mostrar forças. Na semana, o índice subiu 1,56%. Dados positivos, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil,  » LEIA MAIS

Sabesp (SBSP3): Justiça determina suspensão de votação que aprovou adesão de São Paulo à privatização

Uma juíza da 4ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou nesta sexta-feira a suspensão dos efeitos da votação realizada na véspera pela Câmara Municipal de São...

Lojas Renner (LREN3): O que esperar do resultado do 1T24

A Lojas Renner (LREN3) deve apresentar resultados acima do esperado no primeiro trimestre de 2024, de acordo com a Genial Investimentos. A varejista irá reportar o balanço na próxima quarta (8),  » LEIA...

Chuvas castigam lavouras do Sul e preço final pode ser repassado ao consumidor; entenda

As chuvas no sul do país, que deixaram 37 mortos e 74 pessoas desaparecidas até a manhã desta sexta-feira (03), de acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul,  » LEIA...

Weg (WEGE3): analistas elevam preço-alvo das ações após 1T24 “acima das expectativas”

Negócios Weg (WEGE3): analistas elevam preço-alvo das ações após 1T24 “acima das expectativas”A Weg (WEGE3) obteve um lucro líquido de R$ 1,327 bilhão no primeiro trimestre de 2024 (1T24).  » LEIA MAIS

BTLG11 paga R$ 21,6 milhões em dividendos; veja os resultados do mês

Negócios O fundo imobiliário BTLG11 registrou um resultado de R$ 18,765 milhões em março, sendo que R$ 21,38 milhões se referem ao resultado imobiliário do FII.  » LEIA MAIS

Banco do Brasil (BBAS3) tem R$ 3,2 bi em propostas na Agrishow e bate recorde

Negócios O Banco do Brasil (BBAS3) acolheu R$ 3,2 bilhões em propostas de negócios na edição 2024 da Agrishow, a maior feira de agronegócios do País,  » LEIA MAIS

Dólar tem forte queda com dados de emprego nos EUA

Mercado O dólar emendou nesta sexta-feira, 3, o segundo pregão consecutivo de forte queda no mercado doméstico de câmbio, alinhado ao comportamento da moeda no exterior,  » LEIA MAIS

Comments

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Conteúdos Exclusivos

*Inscreva-se e receba conteúdos exclusivos: artigos, notícias, vídeos e podcast.

Nossos canais

Destaques

plugins premium WordPress