Em um país com tamanha instabilidade política, definitivamente não é nada fácil ser responsável pela estabilidade dos preços, controle e execução das políticas monetárias e cambiais.
Não é como em um país de atividade monótona, com alto desenvolvimento social em que as medidas tomadas são fatores de resposta à economia para atingir seu equilíbrio.
No Brasil, o trabalho e medidas tomadas pelo Banco Central (BACEN) são quase que imperativas ao mercado e muitas vezes usadas como fator político ou de desenvolvimento social, o qual não deve (ou pelo menos, não deveria) ser o seu papel. Como já ponderado historicamente do ponto de vista econômico, a política mãe há de ser a fiscal, enquanto as políticas cambiais e monetárias precisam ser adjuntas para garantir: A estabilidade dos preços, a oferta de moeda, o controle da oferta e demanda de moeda estrangeira e da taxa de juros. Ou seja, não se deve usar juros ou impressão de moeda para fazer política de desenvolvimento.
Sem dúvidas, a autonomia dada ao BACEN, por meio da Lei Complementar nº 179 de 2021 foi um dos maiores avanços que poderíamos ter no tema. Além disso, diversos outros fatores trazidos pela lei foram de grande importância, valendo citar a periodicidade e regras de sua diretoria.
Hoje o Brasil encontra-se em um momento de contramão na economia mundial, uma vez que os bancos centrais ao redor do mundo ou procuram acertar a mão nas taxas de juros ou já acharam a dose certa. No entanto, com certo atraso, o Brasil se adiantou (muito há de se considerar pelas nossas experiências pós-traumáticas à hiperinflação) e conseguiu tomar estas rédeas de forma eficiente ao mercado com convicção para a população e para os investidores. Tal fator que há de se ponderar bem, pois não só apenas dos fatores econômicos e financeiros se faz a instabilidade nos preços, mas também a inflação inercial e a própria desconfiança das pessoas nas políticas de preço podem causar inflação , pois o medo do povo em haver inflação, pode gerá-la, mesmo que com o controle dos aspectos financeiros.
É verdade que a nossa querida carta de explicações sobre a meta de inflação (acordada em 3,5% para o ano de 2022) provavelmente será redigida pelo presidente do BACEN ao ministro da economia, porém desta vez a carta vem em tom diferente perante a consideração do que está havendo ao redor do mundo, pois estamos na frente. Nos EUA, por exemplo, o atraso no FED em identificar o problema inflacionário e corrigir a mão na taxa de juros, não apenas desdenhou a inflação, como também uma recessão econômica, situação de estagflação que é, talvez, o pior dos cenários para um país.
Revisitando os últimos cenários, de 2020 para cá tivemos pandemia, taxa básica de juros brasileira em 2% ao ano, aumento gradual e acerto na mão de oferta de juros e moeda. Como dito anteriormente, muito devido ao nosso trauma com experiências inflacionárias. Ao mesmo tempo, parecemos não conseguir sair do arcabouço dos problemas fiscais que impedem a manutenção de tais medidas e a estabilidade no controle de preços.
Entra governo, sai governo, continuamos balançando no tripé macroeconômico em relação à responsabilidade fiscal, seja por “N” fatores, propositais, responsáveis ou não. Enquanto vemos um fim de governo qual o teto de gastos já foi furado, o outro que nem entrou em atuação já flerta com as alterações e medidas para ultrapassar. De todos os lados, promessas econômicas absurdas, irresponsáveis e totalmente inviáveis, que soam bem aos ouvidos daqueles que não tem proximidade com o tema. É preciso dar crédito ao BACEN pelo seu excelente trabalho, mas tudo será em vão se nunca resolvermos esse jeitinho brasileiro de sempre abrir uma torneira a mais